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Sex Differences in the Pattern of Patient Referrals to Male and Female Surgeons

Fahima Dossa, MD; Dan Zeltzer, PhD; Rinku Sutradhar, PhD; Andrea N. Simpson, MD, MSc; Nancy N. Baxter,MD, PhD

Este é um estudo publicado recente mente no JAMA – The Journal of theAmerican Medical Association, com desenho transversal e base populacional
que utilizou bancos de dados administrativos para identificar encaminhamentos ambulatoriais feitos para cirurgiões em Ontário, Canadá, de 1º de janeiro de
1997 a 31 de dezembro de 2016, com acompanhamento até 31 de dezembro de 2018.

O estudo teve como objetivo comparar as características dos pacientes encaminhados e a proporção de encaminhamentos feitos a cirurgiões do sexo masculino e feminino, além de avaliar se o
sexo do médico e/ou cirurgião solicitante influencia em decisões de encaminhamento.

Foram avaliados encaminhamentos médicos para cirurgia geral, neurocirurgia, cirurgia ortopédica, cirurgia plástica, ginecologia-obstetrícia, oftalmologia, otorrinolaringologia e urologia. Foram excluídos os encaminhamentos para cirurgia cardíaca, torácica e vascular, por apresentarem número reduzido de mulheres especialistas (menos de quinze). Esse dado vai ao encontro da realidade brasileira, onde as mulheres são apenas 14% do total de cirurgiões torácicos associados na SBCT, sendo apenas 17 membros titulares.

Um total de 39.710.784 encaminhamentos foram feitos por 44.893 médicos (61,9% homens) para 5.660 cirurgiões (77,5% homens). Os cirurgiões eram mais velhos e praticavam cirurgia há mais tempo que as cirurgiãs, entretanto, mesmo após o ajuste para treinamento e antiguidade, as cirurgiãs receberam menos pacientes do que os cirurgiões do sexo masculino.

Tanto os médicos quanto as médicas encaminharam mais pacientes para cirurgiões do sexo masculino (87,1% dos médicos e 79,3% de médicas; p<0,001). As pacientes do sexo feminino foram mais frequentemente encaminhadas a cirurgiãs do que aos cirurgiões. Já os pacientes do sexo masculino foram menos encaminhados a uma cirurgiã do que pacientes do sexo feminino (8,5% dos pacientes do sexo masculino e 19,9% do sexo feminino; p<0,001); e pacientes homens atendidos por médicos eram menos encaminhados a uma cirurgiã do que homens atendidos por médicas (7,7% vs 11,1%; p<0,001). No geral, tanto os médicos quanto as médicas referenciaram maior proporção de seus pacientes para cirurgiões do sexo masculino do que a população proporcional destes cirurgiões.

Homofilia endogâmica (tendência de o indivíduo associar-se com aqueles que são como ele mesmo) foi observada entre médicos, mas não entre as médicas. Vale a reflexão sobre o que isso realmente significa: as mulheres encaminham seus pacientes ao profissional que consideram mais qualificado e apto a conduzir o caso ou também possuem um machismo não declarado?

O estudo concluiu que médicos do sexo masculino encaminharam uma proporção maior de pacientes aos cirurgiões do que às cirurgiãs. Além disso, as cirurgiãs receberam mais encaminhamentos de pacientes não cirúrgicos. Vale ressaltar aqui, que o menor encaminhamento de pacientes cirúrgicos impacta na renda do profissional, colocando em discussão o impacto disso na definição de sucesso profissional de mulheres na especialidade cirúrgica. O estudo conclui também que essas diferenças não se atenuaram ao longo dos 20 anos do estudo e foram ainda maiores nas especialidades cirúrgicas com maior representatividade do sexo feminino, sugerindo que as disparidades persistirão, e até aumentarão, à medida que mais mulheres entrarem no campo da cirurgia.

O estudo apresenta a limitação de ter analisado os dados de apenas uma província canadense, mas outros estudos também apontam nessa direção.


Sabemos que apesar de muitas campanhas de conscientização sobre a igualdade de gênero, a discriminação contra cirurgiãs, entre os médicos, infelizmente ainda é presente fortemente em nosso cotidiano. Talvez, na atualidade, seja menos provável escutarmos frases como aquelas que outrora escutamos: “Não conheço mulher boa cirurgiã” ou “jamais seria operado por uma mulher”. No entanto, pequenas formas de preconceito acontecem todos os dias nos nossos ambientes de trabalho.

Na disciplina e no serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário da Universidade  Federal de Juiz de Fora, somos dois profissionais, um homem e uma mulher, e infelizmente ainda notamos atitudes sexistas por parte de outros profissionais, apesar de desenvolvermos nossas atividades de forma igualitária há mais de 13 anos. Sorte a nossa!

E você, encaminha pacientes a cirurgiãs?

Referências: Dossa F, Zeltzer D, Sutradhar R, Simpson AN, Baxter NN. Sex Differences in the Pattern of Patient Referrals to Male
and Female Surgeons. JAMA Surg. 2022 Feb 1;157(2):95-103. doi: 10.1001/jamasurg.2021.5784. Erratum in: JAMA Surg. 2021
Dec 15;: PMID: 34757424; PMCID: PMC8581775.

Fonte: Jornal – SBCT – Edição de Março / 2022.
Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1Z4zoym0biHBcEMdjQLR5PNMR-pcB191h/view?usp=sharing

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